Excertos da primeira carta pastoral de Dom Vital

Porém o amor que emana de cada frase, de cada palavra do Evangelho restabelecera o equilíbrio entre as diferentes partes desse todo, cuja decomposição era iminente, e as reatara umas às outras. 

A caridade do nosso adorável Salvador, dissolvendo todos os elementos de discórdia, vinculara de tal forma entre si os indivíduos, as classes, os povos, as nações, que erguera-se do caos da universal confusão uma só família, inumerável, mas unida pelos laços do amor, sentindo as pulsações de um só coração, as aspirações de uma só alma, e vivendo como um imenso rebanho, debaixo do cajado de um só pastor. 


Munidos tão somente da caridade de Jesus Cristo, arma na aparência sobremaneira fraca, venceram os Apóstolos todos os óbices e realizam os planos da economia divina. 


Quis dest'arte a Divina Providência não só revelar o poder misterioso e irresistível da caridade, mais forte que a própria morte, senão também ensinar-nos que só com ela nós e vós, Veneráveis Irmãos, lograremos remover os obstáculos que incessantemente se opõem ao cumprimento da augusta obrigação que nos incumbe de instruir o homem acerca do seu eterno destino, indicar-lhe as íngremes veredas da virtude, que para lá conduzem, explicar-lhe os mistérios de sua alma e dirigir constantemente o seu pensamento para Deus, em cujo seio deve ele descansar por todos os séculos dos séculos. 


A independência do pensamento, a soberania da razão, a liberdade de exame em assuntos religiosos, princípios essencialmente subversivos que tem destilado mortífero veneno em quase todas as fontes de instrução, teorias especiosas e falazes que tem fascinado a maior parte da mocidade, incauta e amante de novidades; o enfraquecimento do sentimento religioso; a indiferença, a descrença, a ignorância supina em matéria de religião, que vão lavrando de um modo espantoso e deplorável por todas as classes da sociedade; o materialismo grosseiro, o ímpio naturalismo que mofam e escarnecem desassombradamente dos sacrossantos mistérios e dogmas da nossa santa Religião; a medonha corrupção de ideias e a horrível depravação de costumes que já sobrepujaram todos os diques do decoro. 


Tais são, amados Cooperadores, os tropeços e embaraços com que imprescindivelmente havemos de abalroar no desempenho da nossa missão divina, e que não poderemos superar, senão com a caridade de nosso Divino Mestre, que tudo vence e para a qual tudo é fácil: Omnia fiunt facilia charitati, cui Christi sarsina levis est. 


Dom Vital, “Carta Pastoral saudando aos seus Diocesanos depois da sua Sagração”, 17 de março de 1872


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