Carta coletiva do episcopado mineiro sobre o pleito eleitoral de 1910



O depósito sagrado da Fé Católica, que herdamos dos nossos maiores, acha-se ameaçado pela guerra infrene que os inimigos de Deus tem violentamente desencadeado na imprensa, nos comícios públicos, nas tribunas parlamentares, nas conversações, enfim, em parte e por todos os meios a seu alcance.

Em fileiras cerradas se unem livres-pensadores, protestantes, maçons, positivistas, ateus, para um combate de morte à Igreja Católica, que civilizou nossos silvícolas, batizou nossa nacionalidade e fez crescer, circundado de respeito entre as outras nações do Novo Mundo, o gigante que é o Brasil.


A guerra do extermínio a que nos referimos toma as proporções de perigo tão vasto e calamitoso, que seríamos tentados de desalento, se não tivéssemos a certeza da origem divina da Nossa Santa Religião, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno.

Nos antros tenebrosos da maçonaria espalhada largamente pelo mundo, preparam os projetos de perseguição, que são depois convertidos em leis pelos representantes do povo.

É um fato provado por argumentos irrefutáveis o domínio da maçonaria nas câmaras legislativas das grandes nações da Europa, e não menos palpável é este mesmo fato no continente que habitamos, salientando-se entre suas co-irmãs a República do Brasil, nossa estremecida pátria. Sem atenção a crença de um povo quase em sua unanimidade católico, são proclamadas leis opressivas da liberdade da consciência, como que ufanando-se de contradizer aos desejos, do povo os seus representantes.

A descristianização da nação pelo ensino leigo, transformado em ateu, a expulsão, senão a extinção das comunidades Religiosas, estas phalanges de apóstolos da civilização, o divórcio absoluto do vínculo matrimonial, cancro que corrói a moralidade pública e doméstica; aí estão alguns dos projetos que a maçonaria em nosso querido Brasil, obedecendo a da França, no seu ódio contra o sobrenatural, intenta converter em leis, anunciando já sem rebuço o seu nefasto programa.

E já se vai passando de programa a fatos de agressão física como se vê dos acontecimentos que estão dando contra o zelosissimo sr. bispo do Piauí, ao qual por isso mesmo enviamos nossos protestos de íntima adesão.

Faz-se mister uma reação comum, inteligente, perseverante, da parte do clero e dos fiéis, para atalhar tão grande calamidade contra o Brasil.

A propaganda das ideias sãs pela imprensa, as representações dirigidas às câmaras contra os maus projetos, a negação de votos a candidatos conhecidos por suas ideias anticristãs, a concorrência às urnas eleitorais para triunfo dos bons católicos, aí estão meios de que pode e deve lançar mão para impedir o esmagamento da nossa santa causa.

Ao zelo de v.revma. recomendamos muito no Senhor a leitura refletida das teses maçônicas.

Esperamos que não poupará esforços v. revma para esclarecer os fiéis confiados a sua guarda, sobre a iniquidade destes projetos nefandos, e fará quanto puder para propagar os princípios contrários, não omitindo nenhum dos meios apontados e empregando além destes os que lhe sugerir o zelo do bem social e religioso, unido com a prudência cristã. Insistimos particularmente em representações respeitosas, mas decididas, aos poderes competentes, contra o divórcio, contra a descristianização do povo pela escola ateia, ou simplesmente leiga, que se converte em ateia, contra os ataques às corporações religiosas. Desejamos e exortamos com todo o empenho que o clero promova guerra sem tréguas à má imprensa e aos escândalos das representações ímpias ou imorais e favoreça a eleição de representantes católicos, negando todo auxílio aos díscolos.

A cada um de nossos amados cooperadores e suas freguesias enviamos nossa benção, e pedimos a Deus, nestes santos dias dos mistérios do Nascimento de Jesus, a todos nos conserve a fé e preserve do pecado.


Silvério, Arcebispo de Mariana


Eduardo, Bispo de Uberaba


Joaquim, Bispo de Diamantina


Antônio, Bispo de Pouso Alegre


Prudencio, Bispo de Goiás


João, Bispo de Campanha

Aos 24 de dezembro de 1909

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